sábado, 4 de abril de 2009

La vie en rose


Era véspera de Natal. Mais exatamente dia vinte e quatro de dezembro. Ela tinha sete anos de idade. A essa altura já sabia que Papai Noel não descia pela chaminé. Há muito conhecia a identidade do bom velhinho que todo o ano lhe visitava durante a noite, enquanto dormia o sono dos anjinhos. Mas aquele seria um Natal diferente. Havia uma promessa a ser cumprida.
As horas iam, as horas vinham, e o sol teimava em não abandonar aquelas pessoas ávidas por compras, presentes, abraços, carinhos, ceias. Ceia de Natal. E ela continuava a aguardar a noite. A madrugada.
A lua ofusca o sol e os solitários começam a ouvir o burburinho dos cumprimentos no interior das casas enfeitadas com luzes que refletem famílias felizes, pelo menos durante aqueles breves segundos de dezembro. Ela somente desejava a madrugada.
Congratulações, alguns agrados, algumas lágrimas, algumas juras, banquete farto, e as pessoas começam a voltar às suas respectivas realidades. Enfim, silêncio. A ansiedade continuava estampada em seu rosto infantil. Mas precisava dormir. Dormir para que o Papai Noel chegasse. Só que seus olhos não lhe obedeciam. Rolava de um lado da cama. Rolava de outro. Contava carneirinhos. Não adiantava. Estava feliz, todavia não conseguia dormir.
De repente, a maçaneta da porta gira. Era o Papai Noel! Ela fecha os olhos para não decepcioná-lo, e o vulto de duas pessoas adentra o quarto balbuciando coisas que não conseguia ouvir. Cochichavam. Ela mantinha os olhos fechados. Sente quando lhe beijam a face e ouve quando a porta é cuidadosamente encostada pelo lado de fora. Rapidamente abre os olhos.
No meio do quarto estava ela, a promessa! Suntuosa, rainha, elegante, majestosa! Sorrateiramente, desce da cama, contorna o presente tão esperado durante todo o ano, admira, volta a contorná-lo, acaricia.
Não podia acender a luz. Descobririam que ela não estava dormindo! Mesmo assim, volta a acariciar, pois mesmo sem ver, podia sentir, podia tocar...
Os primeiros raios de sol despontam no horizonte. Papai Noel adentra outra vez o quarto para despertá-la e quem sabe participar da surpresa em seus olhinhos brilhantes! Mas dessa vez, o velhinho apenas sorri. Sorri da cena que acabara de presenciar. A pequena estava ali, deitada ao chão, agarrada aos aros de seu presente de Natal. Já desperta, vê que seu presente é rosa! Agora podia ver! Uma bicicleta rosa! Ela já sentia o vento a despentear-lhe os cabelos, a tocar-lhe a face! A partir dali, desbravaria as pacatas ruas daquela cidade se equilibrando entre o bem e o mal!
Como em um passe de mágica, o cinza da vida cedeu espaço à cor do Natal. A vida agora era rosa, cor de rosa! Simples assim...
- Pena que não será sempre assim – lamentou o Papai Noel. Era verdade. Infelizmente, a pequena cresceu...

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