quinta-feira, 3 de dezembro de 2009
O laudo psiquiátrico
- É sua primeira vez no consultório?
- Sim.
- Você fuma?
- Não.
- Você ingere bebidas alcoólicas?
- De vez em quando.
- Faz uso de algum medicamento controlado?
- Não.
- Sente as mãos trêmulas, palpitações, boca seca, falta de ar?
- Sim.
- Tem dificuldades para dormir?
- Sim.
- Amanhece cansada, confusa e com ressaca moral?
- Sim.
- É usuária de drogas?
- Sim.
- Que tipo de droga?
- O amor. E amar é uma droga.
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
sexta-feira, 6 de novembro de 2009
Em vão...
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
Escolhas...
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
O imigrante
Providenciei-lhe um uísque duplo, enquanto ele se acomodava em um dos bancos disponíveis no estabelecimento. Dessa vez, não escolhera uma mesa. Estava sozinho. Sem hesitar, deu dois grandes goles à bebida e devolveu o copo já vazio ao balcão.
Geralmente os trabalhadores braçais deixavam suas casas por volta das cinco horas da manhã, para aguardarem, em um ponto preestabelecido, o motorista responsável por conduzi-los às obras. Na maioria das vezes, trabalhavam em construções fora da cidade para evitarem os controles que eram constantes em Bruxelas. Nesses casos, levavam-se horas para chegar ao destino. Como atrasos não eram tolerados, era necessário levantar bem cedo para estar, à hora combinada, nos respectivos locais de trabalho.
segunda-feira, 31 de agosto de 2009
domingo, 2 de agosto de 2009
Múltipla Escolha
Indecisão...
Medo? Cautela? Covardia?
Sei lá!
Só sei que as vezes seria melhor não se ter opções!
Ou não?
Sinceramente?
Não sei...
quinta-feira, 23 de julho de 2009
terça-feira, 14 de julho de 2009
La vie presque en rose!
Está tudo tão diferente...
Às vezes sinto saudade de mim, de quem eu era. O problema é que não me lembro mais de como eu era! Tão pouco tempo, e tantas mudanças! Não sei onde me perdi, também não sei se me encontrei! Sequer sei se foi melhor ou pior. Quando tiver essa resposta, digo-vos...
Se algum dia eu a tiver...
Mas, sabe de uma coisa?
Está tudo tão diferente...
domingo, 12 de julho de 2009
sábado, 4 de julho de 2009
sexta-feira, 3 de julho de 2009
C'est comme ça...
Eu sou mesmo assim… É assim mesmo que eu vivo, entre o limiar do que você imagina ser insanidade e o que eu considero tão somente normal! E prá continuar no meu mundo, há apenas duas possibilidades: ou você embarca em minhas loucuras, ou crie você, as suas. Porque é assim que eu gosto de viver: loucamente!
quinta-feira, 18 de junho de 2009
Pseudo-cura...
A campainha da porta toca insistemente por três vezes. Logo depois, silêncio. Silêncio e um salto alto a ecoar pelo corredor com passos inquietos do outro lado. Ele conhecia aquele andar. Ele conhecia aquele toque de campainha. Ele podia sentir a respiração de quem batia à sua porta àquela hora da noite. E, mais uma vez, antes que seu coração acalmasse, um filme completo passou por sua cabeça, fazendo com que por alguns instantes, pensasse em fingir que não estava ali.
Outra vez a campainha toca. Mais três toques desesperados. Ele ainda hesita
- Por favor, eu sei que você está aí...
Ele não resiste.
E lá estava ela, toda linda, com os mesmos olhos vermelhos de sempre. Frágil, carente, magoada, decidida, arrependida, perdida.
Ele sabia exatamente o que aconteceria poucas horas depois, mas, mesmo assim, a abraçou como se aquele momento fosse o único, como se nada mais existisse além daquele corpo que implorava carinho, apoio, ternura. A verdade é que quando a tinha nos braços, não importava o depois. Quando a tinha nos braços, o mundo não existia lá fora. E era exatamente ali que ele passaria toda a vida, se ela quisesse.
Estava frio. Ele oferece um chá.
- De camomila...Ela balbucia. Precisava se acalmar...
Ele prepara o chá, coloca na mesma xícara de sempre, e a serve, admirando como ela continuava linda mesmo estando tão brava. E, assim, enquanto o mundo continuasse a não existir lá fora, ele cuidaria dela, exatamente como todas as outras vezes em que ela batera à sua porta, sempre decidida a não mais se sujeitar àquele amor que a aprisionava, que a sufocava, que a machucava tanto.
O telefone toca. No visor, ele sabe muito bem quem é.
Desespera.
Ela atende, chora, briga, diz palavrões, acalma, ouve, entende, sorri de leve, pede desculpas, diz que ama, que ainda quer, que é o homem da vida dela, que volta, claro que volta, que voltaria sempre...
Desconsolado, ele se senta no sofá. Ela se posiciona ao lado dele, e sem entender o quanto seu coração está cortado, toma-lhe as mãos, beija carinhosamente, agradece pelo apoio, e com um brilho nos olhos, o brilho de quem vai voltar para seu amor, se isenta de qualquer culpa por fazê-lo sofrer mais uma vez.
- Ninguém manda no coração. Se eu pudesse, escolheria me apaixonar por você...
O mesmo filme se repete. Ela vai embora. Ele não a leva à porta. Apenas ouve o som de seu salto alto a ecoar pelo corredor agora com direção certa e definida.
E ele fica ali, a esperar a próxima noite em que ela o procuraria, decidida a não mais se sujeitar àquele amor que o machucava tanto.
A campainha da porta toca insistemente por três vezes. Logo depois, silêncio. Silêncio e um salto alto a ecoar pelo corredor com passos inquietos do outro lado. Ele conhecia aquele andar. Ele conhecia aquele toque de campainha. Ele podia sentir a respiração de quem batia à sua porta àquela hora da noite.
Outra vez o mesmo martírio. Outra vez sentiria a dor e a alegria de tê-la nos braços, de fazê-la dormir, e depois vê-la partir com o olhar apaixonado de sempre, apaixonado por alguém que não era ele.
Ele abre a porta.
Ela não está mais com os costumeiros e lindos olhos vermelhos. Um sorriso largo lhe enfeita o rosto. Na face, a avidez de quem tem uma ótima notícia a contar. No chão, uma mala, ao lado de suas pernas tão bem torneadas.
O coração lhe salta à boca. Seus olhos não acreditam no que vêem. Será que era mesmo isso que estava acontecendo? Será que ela finalmente percebera o quanto ele a amava? Ele, que sempre esteve à sua disposição, que cuidava de suas feridas, que a aceitava incondicionalmente, que se machucava com suas indecisões, mas sempre a acolhia, que várias vezes abrira mão do próprio orgulho, que tantas outras fora criticado, apontado, desrespeitado. Será que agora seria para sempre?
E ela continuava ali, agora com o olhar verdadeiramente apaixonado, brilhante, faiscante! Não estava mais carente. Parecia firme como uma rocha. Não trazia mais o ar arrependido e distante de outrora.
Apressado por um novo desfecho, ele segura a mala nas mãos. Carinhosa, ela sobrepõe as suas às dele. Mas fica inerte à porta do apartamento.
Um a um, ele retira os dedos da mala. Uma lágrima lhe desce dos olhos há pouco tão ávidos por viver de verdade aquele romance. Ele não consegue entender. Dessa vez, não sabe o que está por vir. No fundo, preferia os poucos momentos juntos à incerteza daqueles intermináveis segundos.
Ela continua estática.
- Por que não eu? – enfim, ele conseguiu sussurrar.
- Porque eu encontrei alguém que não me ama mais que a si próprio – respondeu ela, isentando-se de qualquer culpa por fazê-lo sofrer para sempre.
No telefone, um novo nome a chama. Ele sabia que ela não mais voltaria a procurá-lo no meio da noite, de olhos vermelhos, frágil, carente, perdida.
segunda-feira, 15 de junho de 2009
quarta-feira, 3 de junho de 2009
terça-feira, 19 de maio de 2009
Um dia a gente aprende!
- Mas não precisa ficar tão perto... – gaguejou ela, um tanto quanto constrangida, tirando-lhe um quê de contentamento com todo aquele embaraço...
- Desculpe...- ele sorriu, deixando transparecer a covinha em seu rosto másculo.
Ela retribuiu o sorriso. Ele continuou no mesmo lugar e...
- Qual o seu nome?
Script, frases de efeito, bebidas na mesa, (ah, ela não bebia nada alcoólico!), elogios, toque nas mãos (de vez em quando!), olhos nos olhos, promessas nos olhos, nas palavras! E ela ali, extasiada, inebriada, indefesa com tanto carinho, tanto respeito, tanta sorte em encontrá-lo!
Mãos nos cabelos, carinho no rosto, carícia na nuca, olhos fechados, boca na boca! Beijo longo, devagar, saboreado! Mais abraços, mais toques sutis, mais beijos, mais palavras! Ela realmente encontrara um príncipe encantado!
Algum tempo depois...
- Qual é mesmo o seu nome? – perguntou ele com o celular em mãos, pronto para anotar o número de seu telefone, mas já se despedindo e recolocando a cadeira ao lugar de outrora.
- Ma...Mas...É Maria Flor. Esse é o meu nome – acabou por repetir, ainda que sentindo um indigesto e apertado nó na garganta.
Como alguém poderia esquecer um nome desses em tão pouco tempo?
Mesmo assim, ela lhe passou o número. E até hoje aguarda a ligação de um príncipe encantado de covinhas no rosto e hálito fresco.
- Posso me sentar aqui? – perguntou ele, já puxando a cadeira e fazendo com que ela sentisse o cheiro de hálito fresco que saía de sua boca bonita.
Ela o olhou de cima a baixo, examinou cada parte do seu corpo, e, antes que a cadeira lhe caísse aos pés, puxou-a para perto de si, deixando-o indefenso quando sentiu o calor da proximidade daqueles seios lindos a roçar-lhe, de leve, o braço.
Bebidas à mesa, sorriso descontraído, palavras soltas, despretensiosas, e ela, aos poucos, trouxe-lhe um quê de fantasia de que ela poderia ser dele. Então ele continuava ali, mesmo confuso, atordoado com a energia daquela mulher que não se permitia ser a caça da noite.
- Qual é o seu...?
Foi quando o silenciou com um beijo ardente, insaciável, longo, desejado, desesperado, devorado! Promessas nos toques, nos sussurros, nos olhos, nos poros, na carne! Mais beijos, mais sorrisos, mais toques, mais desejo, mais carícias, mais cheiro, cheiro de mulher!
Ele continuava ali, extasiado, inebriado, indefeso, com tanta desenvoltura, tantos sorrisos leves, tanta vida, tantas promessas de prazer eterno, tanto prazer por prazer! Ele realmente encontrara a mulher da sua vida!
E ela sabia que ele a procuraria todos os dias, todas as noites, todas as horas, em todos os cheiros, em todas as mulheres. Ela sabia que, mesmo sem dizer-lhe o nome, ficara impregnada na pele, na alma, no coração. Ela sabia que ele a esperaria. Mas sabia também que ela não mais se deixaria encontrar...
quinta-feira, 30 de abril de 2009
Mélanges...
todas as dores
e as alegrias
de quem já partiu,
e de quem sabe possuir o mundo nas mãos,
mas já sentiu na pele
que é inútil a partida
quando o coração decide ficar...
segunda-feira, 27 de abril de 2009
sábado, 25 de abril de 2009
quinta-feira, 23 de abril de 2009
terça-feira, 21 de abril de 2009
Desalmada
Que você me toque até descobrir a minha alma
Deixe-a encontrar a sua por alguns instantes
Acaricie-a
Afague-a
Faça-me flutuar
Gemer
Gritar
Sorrir
Faça meu corpo tremer
Abrace-me
Sinta meu coração descompassado
Minha respiração acelerada
Minha pele suada
Mas, devolva-me a alma.
Ela não pertence sequer a mim mesma!
Feche a porta
Siga em frente
E tente não sofrer.
domingo, 19 de abril de 2009
Predestinada
não mais que de repente,
ela descobriu que a felicidade não se curvava às suas auto-sabotagens.
Então,
ela seria mesmo obrigada a ser feliz!
quarta-feira, 15 de abril de 2009
segunda-feira, 13 de abril de 2009
quarta-feira, 8 de abril de 2009
Pensando bem, acho que aquele momento também era muito importante para ela. Era o momento em que ela resgatava e fazia alguém acreditar no que ela acreditara um dia. Mas, se nossos olhos se cruzassem, eu, mesmo em minha pouca idade, perceberia o apelo em seu olhar pra que não levasse tudo aquilo tão a sério.
Não. Eu não estou desiludida. O tempo foi passando, e eu mesma pude criar, recriar e desmitificar meus próprios contos de fadas. Hoje, eu não espero mais um príncipe montado em seu cavalo branco, ou que me beije os lábios depois da bruxa má ter me feito comer uma maçã envenenada. Hoje não perco mais horas de sono a imaginar castelos, jardins suspensos, magias e encantamentos.
Hoje eu apenas quero alguém que me cale a boca com um beijo quando meu silêncio grita e se torna um abismo intransponível entre dois seres que se amam. Eu só quero alguém que compartilhe da minha vida, tente entender a minha alma inquieta, que sacie meu fogo quando estiver aceso, que o acenda quando estiver em brasa, que se deixe acender quando meu corpo se torna incendiário, e que fique assim, agarradinho a mim, até que meu coração volte ao compasso, e a minha respiração desacelere em um sono profundo, protegido pelo aconchego de um abraço que continua ali, bem ao alcance das minhas mãos.
Não precisa ser alguém que goste de tudo que eu gosto. Eu só quero alguém que sinta prazer em estar ao meu lado, simplesmente por estar ao meu lado. Seja na praia ou em uma cidade do interior, seja em uma boate ou em uma estrada deserta, seja no futebol ou naquele almoço de domingo na casa da avó. Porque amar é isso. É troca. E troca é renúncia. Não uma renúncia sofrida ou nociva, mas uma renúncia consciente e tranqüila, unicamente por saber que a pessoa amada está feliz. É isso aí. É isso que eu quero. Alguém que brinque, que vibre, que sorri da vida, que brigue, que perdoa, que me faça perdoar, que desorganize o meu mundo, mas não volte a reorganizá-lo somente no dia seguinte. É isso que eu quero. Alguém que não tenha medo de se apaixonar e que não se intimide com os ridículos do amor.
Não sou perfeita. Não tenho pretensão de o ser. Tenho em mim quase todas as qualidades do mundo, assim como quase todos os defeitos também, inclusive, a ingenuidade de querer ainda imaginar que tudo isso não se trata, da mesma forma, de um conto de fadas. É que de vez em quando eu me recuso a crescer, e está me fazendo falta aquela época em que eu acreditava que "eles se casaram e viveram felizes para sempre"!
sábado, 4 de abril de 2009
Xeque-Mate
O movimento do corpo, o toque aos cabelos, a carícia à borda da taça, o jogo insinuante de cruzar e descruzar as pernas, o cigarro aceso, a fumaça que lhe saía da boca, o olhar malicioso... Ele apenas a olhava, extasiado, deslumbrado. Vez ou outra tomava ares de que se aproximaria, mas ela o mantinha inerte com um olhar insensível e, ao mesmo tempo, desafiador. Era excitante torturá-lo com aquele jogo de esconde-esconde.
De repente, em questão de segundos, ela não estava mais ali. Desaparecera. Ele ainda a procurava quando sentiu o gosto gelado da bebida de uma boca quente a devorar-lhe os lábios, a língua, o corpo, a alma, a vida, a calma.
- E se eu me apaixonar?
Ela nada respondeu. Apenas continuou a consumi-lo, parte a parte, em carinhos, carícias, toques, beijos, gemidos, êxtase. Seria inútil explicar-lhe que ela somente aprendera a procurar. Que ela trazia na alma a eterna insatisfação de quem não sabia encontrar. Seria inútil dizer-lhe para não se apaixonar...
Impressões
Sensação de descobrir o que se tem medo, entende?
Por hoje, sensação de tempo perdido por pura confiabilidade ingênua, romântica.
Sensação de mentiras.
Tudo mentira...
And the oscars goes to
Dias de Sol
Bom dia, céu!
Porque eu quero o mesmo cheiro dessa manhã!
Eu quero o mesmo gosto desse café!
Eu quero esse mesmo olhar ao espelho!
Eu quero minha alma lavada!
Eu quero tudo que eu tenho direito!
Porque todo novo começo é mágico!
Todo amor é único!
E a vida é surpreendentemente linda!
Cache - cache
Partidas
Minuit
Noves fora
De propósito, ela apenas sorriu e voltou a fechar os olhos. Tudo estava confuso. A cabeça, recostada a um travesseiro que não usava habitualmente - é, ele se esquecera de que ela dormia sempre sem travesseiro – doía, pesava, rodava. Talvez precisasse de mais uma dose para se equilibrar entre tantos sentimentos contraditórios, ambíguos, desconexos. Qualquer coisa. Uísque, vodca, tequila, licor, gim, cachaça! Qualquer paliativo que tornasse aquele momento menos sofrido, doloroso, indigesto, seria muito bem vindo! Mas o que se via à frente era um lindo café da manhã: suco, leite, biscoitos amanteigados, uma fatia de queijo, café, torradas, e uma flor a ornamentar aqueles longos minutos tão repletos de espinhos. Para seu desespero, nada de álcool!
Não precisava se vestir. Ainda estava vestida. Sentou-se à cama, arrumou os cabelos, passou as mãos pela blusa na tentativa de desamarrotá-la, e lentamente percorreu com os olhos cada detalhe daquele quarto que já conhecia tão bem. O quadro à parede era o mesmo, abstrato, em tons de dourado e de salmão. A cama era a mesma, confortável, grande, quadrada. O closet era o mesmo. As paredes ainda mantinham o mesmo tom. Ele era o mesmo. Então, o que mudara?
Ele continuava inerte, à espera de alguma palavra, algum gesto, algum carinho, alguma explicação. Sua impaciência contrastava com o olhar perdido dela, que não se fixava em ponto algum. O silêncio era tão perturbador que nenhum dos dois conseguia sequer deixar escapar por entre os lábios um mero bom dia.
Subitamente, como se saísse de um estado hipnótico, ela calçou os sapatos, levantou-se e, a passos lentos, caminhou até a poltrona onde deixara sua bolsa. Tomou em mãos a chave do carro, observou sua imagem ao espelho, voltou-se para ele, olhou-o nos olhos, deu-lhe um beijo à face, e saiu. Dessa vez não batera a porta como já fizera outras tantas. Muito ao contrário, fechou-a com tanto cuidado que nenhum som se ouviu propagar naquele corredor que já fora palco de tórridas cenas de paixão ou de total descontrole emocional, como já diziam alguns. O fato é que ela não tinha mais o direito de machucar quem lá dentro ficara.
Nada naquele apartamento mudou. Nada naquele corredor mudou. Nada nele mudou. Mas ela já não era mais a mesma. E isso era motivo suficiente para não mais voltar aos braços daquele que um dia ela tanto amara...
Perdas
Há amores que não toleram a ausência
Há amores que não suportam a distância
Há amores que se desencantam com a rotina
Há amores envenenados por intrigas
Há amores que são feridos por palavras
Há amores que não alcançam a maturidade
Há amores que são trocados por interesse
Há amores destroçados pela desconfiança
Há amores machucados pela instabilidade
Há amores que não se encontram com a estabilidade
Há amores eternamente solitários
Há amores que se perdem por medo
Apesar de tudo, apesar do amor, apesar do querer, por medo.
Há amores que se perdem até mesmo por excesso de amor!
Mas não ser feliz por medo de amar, mesmo que ainda doa, essa sim, é a forma mais covarde de se perder um grande amor!
Eu de mim
La vie en rose
Era véspera de Natal. Mais exatamente dia vinte e quatro de dezembro. Ela tinha sete anos de idade. A essa altura já sabia que Papai Noel não descia pela chaminé. Há muito conhecia a identidade do bom velhinho que todo o ano lhe visitava durante a noite, enquanto dormia o sono dos anjinhos. Mas aquele seria um Natal diferente. Havia uma promessa a ser cumprida.
Cicatriz
Saiu com os amigos, dançou, pulou, sorriu, falou alto, exorcizou os demônios, se indispôs com alguns anjinhos, se sentiu livre, feliz... Feliz? Quase feliz!
O fato é que dali a alguns dias, o telefone começa a tocar.
Mais alguns dias, e um bouquet à porta.
- Puxa vida! Deve ter custado uma nota!
Ela não reparou na beleza das flores cuidadosamente escolhidas e arranjadas por debaixo de um belo cartão enviado. Rosas vermelhas! Mas rosas que não exalavam cheiro de amor, não lhe representavam nada, muito diferente daquele bouquet recebido meses atrás, no dia de seu aniversário. Mesmo assim, recebeu, agradeceu e sorriu, com direito a sufocar toda dor que sentia naquele momento.
Foi aí que a realidade lhe caiu à cabeça.
Na verdade, ainda doía. Na verdade, ainda não tinha passado. Na verdade, ainda estava em carne viva!
Então ela percebeu que ele tinha mesmo ficado, ficara em forma de ferida, que com o tempo se tornaria uma cicatriz. Mas, por enquanto, ainda estava visível E por isso, as pessoas se afastavam com medo de se machucarem também, e outras, queriam curá-la, algumas até mesmo escondendo a própria cicatriz, pequenina com o passar dos meses.
Ela sabia que um dia a sua cicatriz também se reduziria, seria levada para outra parte do corpo, talvez para um lugar que não mais lhe incomodasse ou pudesse ser vista à olho nu. Porém, ela continuaria ali, contornada pelas lembranças que se fixam à pele como se dela fosse parte. E ainda que outra pessoa a fizesse sorrir, vez ou outra, a cicatriz seria apontada, questionada, encontrada...
Mas ela sabia que ele também carregaria a mesma cicatriz. E mesmo que outra pessoa o fizesse sorrir, ela continuaria ali, marcada em seu corpo, tatuada à pele, fazendo parte dela. E se algum dia não fosse mais encontrada, ainda assim ela estaria ali, tatuada à alma, uma cicatriz na alma, completamente impassível e imune à qualquer tratamento de cura...