quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

O laudo psiquiátrico


- É sua primeira vez no consultório?
- Sim.
- Você fuma?
- Não.
- Você ingere bebidas alcoólicas?
- De vez em quando.
- Faz uso de algum medicamento controlado?
- Não.
- Sente as mãos trêmulas, palpitações, boca seca, falta de ar?
- Sim.
- Tem dificuldades para dormir?
- Sim.
- Amanhece cansada, confusa e com ressaca moral?
- Sim.
- É usuária de drogas?
- Sim.
- Que tipo de droga?
- O amor. E amar é uma droga.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009


Eu preciso de mais espaço para me caber em mim.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Em vão...

Como é difícil se isentar de culpa, quando se sabe que no fundo você não tem culpa alguma, e que nada vai mudar, simplesmente porque não é sua culpa…

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Escolhas...

E
se essa estrada
não me levar
ao lugar onde quero chegar,
eu abro outra no meio da mata!

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

O imigrante

- Por favor, eu preciso de uma bebida forte! – pediu-me, assustado, Pedro.
Era em torno das vinte horas do sábado. Pedro ainda portava as roupas que eram utilizadas no trabalho em obras. Seu olhar visivelmente esgotado denunciava que algo havia acontecido. Os cantores da noite apenas experimentavam o som para o show que aconteceria um pouco mais tarde. O movimento do Café me permitia dispensar maior atenção aos clientes.
Providenciei-lhe um uísque duplo, enquanto ele se acomodava em um dos bancos disponíveis no estabelecimento. Dessa vez, não escolhera uma mesa. Estava sozinho. Sem hesitar, deu dois grandes goles à bebida e devolveu o copo já vazio ao balcão.
- Quase que eu desço hoje! – disse-me em um tom apavorado.
Ele estava referindo-se ao Brasil. A posição geográfica de cada País era sempre relacionada às noções de descer ou subir no mapa mundial. Logo, partindo-se da Bélgica para a América do Sul, descia-se.
- O que aconteceu? – perguntei-lhe já imaginando o que poderia ter sido.

Geralmente os trabalhadores braçais deixavam suas casas por volta das cinco horas da manhã, para aguardarem, em um ponto preestabelecido, o motorista responsável por conduzi-los às obras. Na maioria das vezes, trabalhavam em construções fora da cidade para evitarem os controles que eram constantes em Bruxelas. Nesses casos, levavam-se horas para chegar ao destino. Como atrasos não eram tolerados, era necessário levantar bem cedo para estar, à hora combinada, nos respectivos locais de trabalho.
Faziam cerca de oito a dez horas no batente, sendo que alguns chegavam a atingir até quatorze,
quinze horas de serviço por dia. O controle do tempo era exercido tanto pelos empregados, que assinavam sempre horário de entrada e saída, quanto pelo empregador, que supervisionava a veracidade das informações prestadas.
Invariavelmente, os recém-chegados ao País passavam por uma fase não muito animadora. Como o ofício exigia certa habilidade com maquinários e apresentava diferenças cruciais em relação à construção brasileira, muitos se viam obrigados a trabalhar gratuitamente, ou, na melhor das hipóteses, receberem um ordenado irrisório até adquirirem alguma experiência na área.
A história de Pedro também se primava por esse começo. Entretanto, com o passar dos anos, havia conquistado certa estabilidade e seu meio de sobrevivência atingido um reconhecimento maior. Não percebia uma fortuna em euros, mas tinha consciência que no Brasil, sobretudo sem estudos, não conseguiria alcançar sequer trinta por cento do ordenado que recebia ali, sobretudo, exercendo o labor em construções.
A obra que estava agora a construir aproximava-se de Liège. Localizada em uma zona rodeada por mata verde e distante do ritmo frenético da cidade, tratava-se de um grande hotel levantado por dezenas de empregados, dentre eles, vários imigrantes ilegais.
Diferentemente dos habituais dias de construção, assim que chegaram e vestiram as roupas apropriadas para o trabalho, ouviram o barulho de vários veículos a se aproximarem do local. Depois disso, as horas que se passaram foram infindáveis minutos de muito sofrimento e desespero. Quando puderam identificar as viaturas da polícia a despontarem já bem próximo à edificação, o que se viu foi a triste imagem de vários homens a embrenharem-se mata a dentro, como se verdadeiros criminosos fossem, em um esforço crucial de não serem apanhados trabalhando ilegalmente naquele País. Deixaram tudo para trás: equipamentos de trabalho, telefones celulares e outros pertences.
De imediato, a polícia foi dividida em dois grupos. Parte permaneceu no local a conferir a documentação da obra e dos empregados que ali continuaram, seja por possuírem visto de trabalho ou por não terem logrado êxito na tentativa de fuga, e outra parte pôs-se a perseguir aqueles que se aventuraram por aquela mata fechada. Pedro era um deles. Não poderia se deixar agarrar. Muitas pessoas no Brasil dependiam daquele valor que, embora pequeno, invariavelmente, era despachado todos os meses a sua família.
Enquanto se ouvia os passos apressados dos policiais e dos cães que ladravam ferozmente à caça dos imigrantes, estes lutavam com todas as forças para não se deixarem abater pelo cansaço e pela fome que já começava a despontar.
As horas passavam e os policiais não desistiam. Muitos trabalhadores não resistiram à caçada humana que se seguiu e foram capturados como verdadeiros bandidos em flagrante delito. Por sorte e muita resistência, Pedro teve sucesso em sua desesperadora escapada.
Com a ausência do sol para informar se o dia estava ou não terminando, decidiu abandonar a mata quando não se ouvia mais qualquer ruído, fosse dos policiais, dos cães ou até mesmo do cantar de algum pássaro. Faminto e sem alternativa, pôs-se a andar em busca do caminho de volta à obra. Depois de algum tempo a peregrinar, conseguiu chegar ao seu destino final.
A construção estava vazia. Bruxelas encontrava-se distante dali aproximadamente setenta quilômetros. Andar pela rodovia seria um ato de loucura. Todo seu esforço teria sido em vão. Aguardar até o amanhecer seria duvidoso. Era sábado, e o domingo, geralmente, tratava-se de dia de descanso, mesmo para os imigrantes. Ademais, quando aconteciam controles naquela proporção, raramente os trabalhadores voltavam no dia seguinte.
Olhou para o céu e, em prantos, lembrou-se da existência de Deus. Humilde, pediu-LHE ajuda. Tentando não permitir que mais uma vez o desespero se fizesse maior, começou a procurar qualquer possibilidade que o tirasse dali. Encontrou um telefone celular. Agradecido, entrou em contato com seu patrão que se prontificou a buscá-lo em poucos minutos. Somente percebeu quanto tempo ali passara quando teve ocasião de verificar o relógio. Ficara escondido na mata, sem nada comer ou beber durante mais de dez horas seguidas. Mesmo assim não possuía qualquer intenção em desistir. Estava ciente que aquela situação poderia acontecer. Estava resignado a passar por tudo aquilo novamente, se necessário fosse. O que lhe importava era que ao final de cada mês, remetia ao seu País, ainda que de grão em grão, um valor que lhe possibilitaria usufruir de uma vida melhor futuramente.
Servi-lhe mais um uísque duplo e sugeri-lhe que fosse a casa tomar um banho, alimentar-se, esquecer o acontecido e voltar para se divertir ao lado dos muitos amigos que ele já havia feito em Bruxelas. Prontamente aceitou minha sugestão.
Com a aparência um pouco melhor, voltou algumas horas depois, onde pôde constatar a presença de imigrantes que também tiveram êxito naquela escapada crucial. Com eles, traziam notícias dos outros que não tinham mais a oportunidade de estarem ali. No que se referia aos brasileiros, se tivessem sorte, em poucos dias estariam pisando o solo do Brasil. Os procedimentos que permitiam a permanência destes na Bélgica raramente eram aplicados aos que eram encontrados trabalhando em situação ilegal.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

domingo, 2 de agosto de 2009

Múltipla Escolha


Indecisão...

Medo? Cautela? Covardia?

Sei lá!

Só sei que as vezes seria melhor não se ter opções!

Ou não?

Sinceramente?

Não sei...

quinta-feira, 23 de julho de 2009

terça-feira, 14 de julho de 2009

La vie presque en rose!

Está tudo tão diferente...


Às vezes sinto saudade de mim, de quem eu era. O problema é que não me lembro mais de como eu era! Tão pouco tempo, e tantas mudanças! Não sei onde me perdi, também não sei se me encontrei! Sequer sei se foi melhor ou pior. Quando tiver essa resposta, digo-vos...


Se algum dia eu a tiver...


Mas, sabe de uma coisa?


Está tudo tão diferente...

domingo, 12 de julho de 2009

Tudo

À
Flor
da
Pele...

sábado, 4 de julho de 2009

sexta-feira, 3 de julho de 2009

C'est comme ça...

Eu sou mesmo assim… É assim mesmo que eu vivo, entre o limiar do que você imagina ser insanidade e o que eu considero tão somente normal! E prá continuar no meu mundo, há apenas duas possibilidades: ou você embarca em minhas loucuras, ou crie você, as suas. Porque é assim que eu gosto de viver: loucamente!

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Pseudo-cura...

A campainha da porta toca insistemente por três vezes. Logo depois, silêncio. Silêncio e um salto alto a ecoar pelo corredor com passos inquietos do outro lado. Ele conhecia aquele andar. Ele conhecia aquele toque de campainha. Ele podia sentir a respiração de quem batia à sua porta àquela hora da noite. E, mais uma vez, antes que seu coração acalmasse, um filme completo passou por sua cabeça, fazendo com que por alguns instantes, pensasse em fingir que não estava ali.


Outra vez a campainha toca. Mais três toques desesperados. Ele ainda hesita em abrir. Sente um frio no estômago, um mal súbito. As mãos suam, tremem, entrelaçam e se desentrelaçam, e ele ainda hesita em abrir a porta. Pensa mais um pouco, dá alguns passos em direção à entrada do apartamento, mas outra vez, recua. Ele não estava preparado para aquele encontro. Era melhor ficar quieto. Era melhor cumprir a promessa de que não mais lhe abriria a porta.


- Por favor, eu sei que você está aí...


Ele não resiste.

E lá estava ela, toda linda, com os mesmos olhos vermelhos de sempre. Frágil, carente, magoada, decidida, arrependida, perdida.

Ele sabia exatamente o que aconteceria poucas horas depois, mas, mesmo assim, a abraçou como se aquele momento fosse o único, como se nada mais existisse além daquele corpo que implorava carinho, apoio, ternura. A verdade é que quando a tinha nos braços, não importava o depois. Quando a tinha nos braços, o mundo não existia lá fora. E era exatamente ali que ele passaria toda a vida, se ela quisesse.

Estava frio. Ele oferece um chá.

- De camomila...Ela balbucia. Precisava se acalmar...


Ele prepara o chá, coloca na mesma xícara de sempre, e a serve, admirando como ela continuava linda mesmo estando tão brava. E, assim, enquanto o mundo continuasse a não existir lá fora, ele cuidaria dela, exatamente como todas as outras vezes em que ela batera à sua porta, sempre decidida a não mais se sujeitar àquele amor que a aprisionava, que a sufocava, que a machucava tanto.


O telefone toca. No visor, ele sabe muito bem quem é.

Desespera.

Ela atende, chora, briga, diz palavrões, acalma, ouve, entende, sorri de leve, pede desculpas, diz que ama, que ainda quer, que é o homem da vida dela, que volta, claro que volta, que voltaria sempre...

Desconsolado, ele se senta no sofá. Ela se posiciona ao lado dele, e sem entender o quanto seu coração está cortado, toma-lhe as mãos, beija carinhosamente, agradece pelo apoio, e com um brilho nos olhos, o brilho de quem vai voltar para seu amor, se isenta de qualquer culpa por fazê-lo sofrer mais uma vez.

- Ninguém manda no coração. Se eu pudesse, escolheria me apaixonar por você...


O mesmo filme se repete. Ela vai embora. Ele não a leva à porta. Apenas ouve o som de seu salto alto a ecoar pelo corredor agora com direção certa e definida.

E ele fica ali, a esperar a próxima noite em que ela o procuraria, decidida a não mais se sujeitar àquele amor que o machucava tanto.


A campainha da porta toca insistemente por três vezes. Logo depois, silêncio. Silêncio e um salto alto a ecoar pelo corredor com passos inquietos do outro lado. Ele conhecia aquele andar. Ele conhecia aquele toque de campainha. Ele podia sentir a respiração de quem batia à sua porta àquela hora da noite.

Outra vez o mesmo martírio. Outra vez sentiria a dor e a alegria de tê-la nos braços, de fazê-la dormir, e depois vê-la partir com o olhar apaixonado de sempre, apaixonado por alguém que não era ele.


Ele abre a porta.

Ela não está mais com os costumeiros e lindos olhos vermelhos. Um sorriso largo lhe enfeita o rosto. Na face, a avidez de quem tem uma ótima notícia a contar. No chão, uma mala, ao lado de suas pernas tão bem torneadas.

O coração lhe salta à boca. Seus olhos não acreditam no que vêem. Será que era mesmo isso que estava acontecendo? Será que ela finalmente percebera o quanto ele a amava? Ele, que sempre esteve à sua disposição, que cuidava de suas feridas, que a aceitava incondicionalmente, que se machucava com suas indecisões, mas sempre a acolhia, que várias vezes abrira mão do próprio orgulho, que tantas outras fora criticado, apontado, desrespeitado. Será que agora seria para sempre?

E ela continuava ali, agora com o olhar verdadeiramente apaixonado, brilhante, faiscante! Não estava mais carente. Parecia firme como uma rocha. Não trazia mais o ar arrependido e distante de outrora.

Apressado por um novo desfecho, ele segura a mala nas mãos. Carinhosa, ela sobrepõe as suas às dele. Mas fica inerte à porta do apartamento.


Um a um, ele retira os dedos da mala. Uma lágrima lhe desce dos olhos há pouco tão ávidos por viver de verdade aquele romance. Ele não consegue entender. Dessa vez, não sabe o que está por vir. No fundo, preferia os poucos momentos juntos à incerteza daqueles intermináveis segundos.

Ela continua estática.


- Por que não eu? – enfim, ele conseguiu sussurrar.

- Porque eu encontrei alguém que não me ama mais que a si próprio – respondeu ela, isentando-se de qualquer culpa por fazê-lo sofrer para sempre.


No telefone, um novo nome a chama. Ele sabia que ela não mais voltaria a procurá-lo no meio da noite, de olhos vermelhos, frágil, carente, perdida.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Ligada nas voltas que o mundo dá.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

D'autres questions!

São

incríveis

as

respostas

que se tem

quando

você não as busca mais!

terça-feira, 19 de maio de 2009

Um dia a gente aprende!

- Posso me sentar aqui? – perguntou ele, já puxando a cadeira e fazendo com que ela sentisse o cheiro de hálito fresco que saía de sua boca bonita.
- Mas não precisa ficar tão perto... – gaguejou ela, um tanto quanto constrangida, tirando-lhe um quê de contentamento com todo aquele embaraço...
- Desculpe...- ele sorriu, deixando transparecer a covinha em seu rosto másculo.

Ela retribuiu o sorriso. Ele continuou no mesmo lugar e...

- Qual o seu nome?

Script, frases de efeito, bebidas na mesa, (ah, ela não bebia nada alcoólico!), elogios, toque nas mãos (de vez em quando!), olhos nos olhos, promessas nos olhos, nas palavras! E ela ali, extasiada, inebriada, indefesa com tanto carinho, tanto respeito, tanta sorte em encontrá-lo!

Mãos nos cabelos, carinho no rosto, carícia na nuca, olhos fechados, boca na boca! Beijo longo, devagar, saboreado! Mais abraços, mais toques sutis, mais beijos, mais palavras! Ela realmente encontrara um príncipe encantado!

Algum tempo depois...

- Qual é mesmo o seu nome? – perguntou ele com o celular em mãos, pronto para anotar o número de seu telefone, mas já se despedindo e recolocando a cadeira ao lugar de outrora.

- Ma...Mas...É Maria Flor. Esse é o meu nome – acabou por repetir, ainda que sentindo um indigesto e apertado nó na garganta.

Como alguém poderia esquecer um nome desses em tão pouco tempo?

Mesmo assim, ela lhe passou o número. E até hoje aguarda a ligação de um príncipe encantado de covinhas no rosto e hálito fresco.


(...)

- Posso me sentar aqui? – perguntou ele, já puxando a cadeira e fazendo com que ela sentisse o cheiro de hálito fresco que saía de sua boca bonita.

Ela o olhou de cima a baixo, examinou cada parte do seu corpo, e, antes que a cadeira lhe caísse aos pés, puxou-a para perto de si, deixando-o indefenso quando sentiu o calor da proximidade daqueles seios lindos a roçar-lhe, de leve, o braço.

Visivelmente perturbado, disfarçou, tentou sorrir, mas as palavras não lhe saíam completas da boca. Tremia, suava, gaguejava, se desculpava, e ela ali, a olhá-lo como se nada do que dissesse a tocasse! Simplesmente não sabia como agir...

Bebidas à mesa, sorriso descontraído, palavras soltas, despretensiosas, e ela, aos poucos, trouxe-lhe um quê de fantasia de que ela poderia ser dele. Então ele continuava ali, mesmo confuso, atordoado com a energia daquela mulher que não se permitia ser a caça da noite.

- Qual é o seu...?

Foi quando o silenciou com um beijo ardente, insaciável, longo, desejado, desesperado, devorado! Promessas nos toques, nos sussurros, nos olhos, nos poros, na carne! Mais beijos, mais sorrisos, mais toques, mais desejo, mais carícias, mais cheiro, cheiro de mulher!

Ele continuava ali, extasiado, inebriado, indefeso, com tanta desenvoltura, tantos sorrisos leves, tanta vida, tantas promessas de prazer eterno, tanto prazer por prazer! Ele realmente encontrara a mulher da sua vida!

E ela sabia que ele a procuraria todos os dias, todas as noites, todas as horas, em todos os cheiros, em todas as mulheres. Ela sabia que, mesmo sem dizer-lhe o nome, ficara impregnada na pele, na alma, no coração. Ela sabia que ele a esperaria. Mas sabia também que ela não mais se deixaria encontrar...

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Mélanges...


Eu trago em mim

todas as dores

e as alegrias

de quem já partiu,

de quem já voltou,
de quem já ficou,
e de quem sabe possuir o mundo nas mãos,
mas já sentiu na pele
que é inútil a partida
quando o coração decide ficar...


segunda-feira, 27 de abril de 2009

E mais uma vez ela superou o medo de se olhar ao espelho.
Ela era linda!
E estava embriagada pela vida que lhe pulsava nas veias!

sábado, 25 de abril de 2009

Não espere me prender tentando dissimular uma liberdade que, no momento, eu não quero! Não me deixe livre, porque se eu encontrar o que eu não procuro, talvez eu comece a acreditar em outras noções de felicidade!

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Não me culpe se meu corpo tem vontade própria,
se meu desejo desconhece o “dever ser” ou “deveria ser”!
O desejo não tem regras.
O corpo não tem regras.
O amor não tem regras.
A vida não tem regras.
O que eu tiro disso tudo?
Que não há nada mais urgente que viver!
E, sinceramente, eu tenho pressa!

terça-feira, 21 de abril de 2009

Desalmada

Eu só quero que você me beije
Que você me toque até descobrir a minha alma
Deixe-a encontrar a sua por alguns instantes
Acaricie-a
Afague-a
Faça-me flutuar
Gemer
Gritar
Sorrir
Faça meu corpo tremer
Abrace-me
Sinta meu coração descompassado
Minha respiração acelerada
Minha pele suada
Mas, devolva-me a alma.
Ela não pertence sequer a mim mesma!
Feche a porta
Siga em frente
E tente não sofrer.

domingo, 19 de abril de 2009

Predestinada

E assim,
não mais que de repente,
ela descobriu que a felicidade não se curvava às suas auto-sabotagens.
Então,
ela seria mesmo obrigada a ser feliz!

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Malditas lembranças
que ainda teimam
em me fazer
prisioneira da tua imagem.
Malditas!

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Mas
quando
se
abre
os
olhos...

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Eu sempre soube que príncipe encantado não existia. Não, sempre não. Na verdade, sou obrigada a confessar que já acreditei em contos de fadas. Principalmente, aqueles que minha mãe lia ao pé da minha cama, que hoje percebo, eram interpretados sem que ela me fitasse os olhos. Ela lia, e eu ali, ficava tentando imaginar as cenas, fantasiava, viajava, recriava, questionava, mas adormecia em paz. Afinal, sempre tinham finais felizes.

Pensando bem, acho que aquele momento também era muito importante para ela. Era o momento em que ela resgatava e fazia alguém acreditar no que ela acreditara um dia. Mas, se nossos olhos se cruzassem, eu, mesmo em minha pouca idade, perceberia o apelo em seu olhar pra que não levasse tudo aquilo tão a sério.

Não. Eu não estou desiludida. O tempo foi passando, e eu mesma pude criar, recriar e desmitificar meus próprios contos de fadas. Hoje, eu não espero mais um príncipe montado em seu cavalo branco, ou que me beije os lábios depois da bruxa má ter me feito comer uma maçã envenenada. Hoje não perco mais horas de sono a imaginar castelos, jardins suspensos, magias e encantamentos.

Hoje eu apenas quero alguém que me cale a boca com um beijo quando meu silêncio grita e se torna um abismo intransponível entre dois seres que se amam. Eu só quero alguém que compartilhe da minha vida, tente entender a minha alma inquieta, que sacie meu fogo quando estiver aceso, que o acenda quando estiver em brasa, que se deixe acender quando meu corpo se torna incendiário, e que fique assim, agarradinho a mim, até que meu coração volte ao compasso, e a minha respiração desacelere em um sono profundo, protegido pelo aconchego de um abraço que continua ali, bem ao alcance das minhas mãos.

Não precisa ser alguém que goste de tudo que eu gosto. Eu só quero alguém que sinta prazer em estar ao meu lado, simplesmente por estar ao meu lado. Seja na praia ou em uma cidade do interior, seja em uma boate ou em uma estrada deserta, seja no futebol ou naquele almoço de domingo na casa da avó. Porque amar é isso. É troca. E troca é renúncia. Não uma renúncia sofrida ou nociva, mas uma renúncia consciente e tranqüila, unicamente por saber que a pessoa amada está feliz. É isso aí. É isso que eu quero. Alguém que brinque, que vibre, que sorri da vida, que brigue, que perdoa, que me faça perdoar, que desorganize o meu mundo, mas não volte a reorganizá-lo somente no dia seguinte. É isso que eu quero. Alguém que não tenha medo de se apaixonar e que não se intimide com os ridículos do amor.

Não sou perfeita. Não tenho pretensão de o ser. Tenho em mim quase todas as qualidades do mundo, assim como quase todos os defeitos também, inclusive, a ingenuidade de querer ainda imaginar que tudo isso não se trata, da mesma forma, de um conto de fadas. É que de vez em quando eu me recuso a crescer, e está me fazendo falta aquela época em que eu acreditava que "eles se casaram e viveram felizes para sempre"!

sábado, 4 de abril de 2009


De volta!
De volta porque preciso gritar ao mundo que tudo que eu queria sempre esteve aqui. Aqui bem pertinho de mim. Aqui, bem à minha frente, bem ao alcance das minhas mãos.
De volta porque preciso confessar minha cegueira, minha ignorância, minha teimosia.
De volta porque só assim consigo ser completa, compreendida, ouvida.
De volta porque palavras me sufocam, me queimam, me aprisionam, mas também são elas que me alforriam, me devolvem o ar, e me curam.
De volta porque não percebia que ainda estava em você. Em seus olhos, sua boca, seu corpo, seu abraço, seus sonhos, seus desejos, sua corrente sanguínea.
Mas, sabe aquela história de que só quem conhece o veneno, conhece o antídoto?
Por isso voltei.
E voltei curada. Voltei ao cubo pelas palavras que me libertam! Curada tão somente para também levar-te à cura!

Xeque-Mate

A meia luz e a fumaça do cigarro deixavam à mostra apenas o contorno de seu rosto bonito. Do outro lado, alguém tentava decifrá-la, com o olhar fixo, insistente. Estava há poucos metros de suas pernas despudoramente cruzadas em um mini-vestido escolhido a dedo para aquela noite. Embora fingisse indiferença, ela sabia que cada gesto seu era analisado por ele.

O movimento do corpo, o toque aos cabelos, a carícia à borda da taça, o jogo insinuante de cruzar e descruzar as pernas, o cigarro aceso, a fumaça que lhe saía da boca, o olhar malicioso... Ele apenas a olhava, extasiado, deslumbrado. Vez ou outra tomava ares de que se aproximaria, mas ela o mantinha inerte com um olhar insensível e, ao mesmo tempo, desafiador. Era excitante torturá-lo com aquele jogo de esconde-esconde.

De repente, em questão de segundos, ela não estava mais ali. Desaparecera. Ele ainda a procurava quando sentiu o gosto gelado da bebida de uma boca quente a devorar-lhe os lábios, a língua, o corpo, a alma, a vida, a calma.

- E se eu me apaixonar?

Ela nada respondeu. Apenas continuou a consumi-lo, parte a parte, em carinhos, carícias, toques, beijos, gemidos, êxtase. Seria inútil explicar-lhe que ela somente aprendera a procurar. Que ela trazia na alma a eterna insatisfação de quem não sabia encontrar. Seria inútil dizer-lhe para não se apaixonar...

Impressões

Sensação de pensar conhecer, mas não conhecer, entende?
Sensação de descobrir o que se tem medo, entende?
Por hoje, sensação de tempo perdido por pura confiabilidade ingênua, romântica.
Sensação de mentiras.
Tudo mentira...

And the oscars goes to

Protagonista. Antagonista. Figurante. Platéia. Coadjuvante. Júri. Ela já foi tudo na película que tentava exibir o que ela é. Ledo engano. Qualquer semelhança à realidade era mera coincidência. E se não fosse, convencia-se de que era. Nada tirava-lhe o gosto por personagens. Viver do nada, do tudo, do vento, dos atos, das cenas. E ela vivia. Não um dia de cada vez. Todos os dias de uma só vez. Era livre. Era leve. Não dava explicações. Não se auto explicava. Assim era bem mais fácil. E agora? Agora que ela aprendeu a se sentir? Agora que ela decidira se experimentar, se tocar, se saborear? Como voltar a representar se tudo que fala alcança-lhe as impressões digitais? Se tudo que olha rouba-lhe a essência, despe-lhe a alma, invade-lhe o palco? É isso que ela não suporta. Ela não suporta ser medida da cabeça aos pés. Ela não suporta ser um turbilhão de emoções, mas sem uma armadura que lhe dissimule o rubor do rosto e o coração em frangalhos. Ela não suporta mais sentir o gosto dela mesma. É intenso demais. É cruel demais. Ela precisa urgentemente de um novo roteiro. De um personagem que a salve de seus próprios sentimentos. De sua própria desordem.

Dias de Sol

Bom dia, dia!
Bom dia, amanhecer!
Bom dia, céu!
Bom dia, eu!
Bom dia, você!
Bom dia, felicidade!
Que o hoje não se apague jamais.
E se apagar, que venham outros dias como hoje.
Porque eu quero o mesmo cheiro dessa manhã!
Eu quero o mesmo gosto desse café!
Eu quero esse mesmo olhar ao espelho!
Eu quero esse mesmo banho quente, demorado!
Eu quero minha alma lavada!
Eu quero tudo que eu tenho direito!
Então, seja muito bem-vindo, sol!
Tens meu aval para dourar meus dias de luz.
Porque todo novo começo é mágico!
Todo recomeço é aposta!
Todo amor é único!
E a vida é surpreendentemente linda!

Cache - cache

Durante todo o tempo eu quis extrair verdades que eu julgava existir, talvez por ter aprendido ser a mentira a grande mola propulsora das relações. Por medo de amar, limita-se! Por medo de sofrer, esconde-se! Por medo da solidão, desvaloriza-se! Por medo de perder, anula-se! Por medo de magoar, recolhe-se! Por medo de ser feliz, acovarda-se! O resto, fatalmente será apenas engano! Mas, pensando bem, tudo que se diz quando já se está mortalmente ferido, também machuca. Verdade ou mentira. Então, não diga nada. Eu me reinvento com as palavras que disparo contra o tempo, com os parágrafos que construo tentando dar sentido às loucuras que me mantêm viva! São apenas loucuras. Mesmo assim, são minhas. São únicas. Personalíssimas.

Partidas

Tão estranha essa sensação de vazio, de se sentir perdida em algum lugar no meio desse mundo todo, que agora me parece infinitamente maior e sem sentido. Tão difícil não ter mais para onde voltar, onde fugir, onde me esconder, onde me encolher. Tão angustiante saber que não terei mais o colinho que me acolhia mesmo quando eu fazia as maiores besteiras na vida. Tão ultrajante aceitar a derrota, quando tanto se lutou durante anos. Tão doloroso ter a certeza que não irei mais encontrá-lo a me esperar altas horas da noite, como se eu fosse uma adolescente inconseqüente que ainda necessitasse de mínimos cuidados e proteção. Tão ironia do destino sentir na pele o mesmo que o senhor deve ter sentido todas as vezes em que me vira partir...
Quantas vezes, pai? Quantas vezes o senhor ficou com o coração tão massacrado como está o meu agora? Quantas vezes as lágrimas que corriam de seus olhos o impediram de ver a sua menininha partir para longe, sem data para voltar, ou mesmo sem saber se iria voltar? Mas eu voltei, pai... Eu voltei para sentir na pele tudo o que o senhor sentiu. Eu voltei para estar a seu lado quando Deus decidisse que fosse a sua vez de viajar! E Ele decidiu a hora.
Foi com muita dor que o vi embarcar e partir, em meio a tanto sofrimento e desespero. Doeu mais ainda ser capaz de entender que seu avião não teria mais qualquer possibilidade de voltar... E a sua garotinha ficou aqui. E vai continuar aqui, à janela do aeroporto. Mas não posso prometer não crescer! Sem o senhor, talvez a vida me tire dos olhos a fragilidade da menininha que só encontrava conforto em seu abraço de pai. Somente em seu abraço, meu querido e tão amado pai.

Minuit

Onze e meia. Melhor, vinte três horas e trinta minutos. Ela ainda não estava pronta. Sempre fora assim. Não se dava bem com o tique-taque do relógio. Se fosse necessário estar pronta às vinte horas, marcava as dezenove. Ainda assim, os cinco minutos a mais eram sagrados. Vivia em descompasso, mas era assim que vivia. Bem, estava quase pronta. Apenas faltava-lhe alguma coisa. Só não sabia o que era. Cabelos soltos, macios. Corpo desenhado por um vestido que lhe deixava os seios livres, ligeiramente excitados com o toque e a leveza do tecido. Salto alto. Olhos marcantes. Boca desenhada. Um anel apenas. Era assim que gostava. Um anel, uma pulseira. Brincos, sim. Os brincos eram maiores. Perfume. Claro, perfume. Volta e meia ao espelho, e ela se depara com a imagem dele logo atrás. Toda a cena tinha sido minuciosamente acompanhada por ele. Desde o início, há muito tempo ele a observava. Carinhosa, ela o abraça. Sente um misto de saudade, tristeza, não entende bem o que é. Não diz nada. Só o abraça. Impossível não recordar. As cartas ainda estavam sobre a cama, as fotos também. Por pouco não se desfizera de tudo que viveram. Por pouco não queimara todas as lembranças, os bilhetinhos, as juras, as promessas! Não fosse aquele olhar, não fosse aquele abraço... Muitas vezes pensara nisso. Em devolver tudo. Em queimar tudo. Em doar tudo. Nunca tivera coragem para tanto. Não eram as fotos que incomodavam, não eram as cartas que machucavam. Era o que não saía da memória que feria, apertava, sufocava. Não adiantava se desfazer do que o coração ainda sentia. E o relógio continuava a trabalhar. Então, devagarzinho ela o deixa. Afasta-se um pouco, se recompõe, e ele fica ali, com o mesmo olhar de sempre. Anda mais alguns passos, e à saída de casa ainda sente que lhe falta alguma coisa. Volta ao quarto, olha-se ao espelho pela última vez, dirige-se até onde ele continua, dá-lhe um beijo de boa noite, e abaixa o porta-retrato. Pronto. Agora não faltava mais nada. Meia-noite. Já era um novo dia. Era hora de sair...

Noves fora

Um beijo de leve a acordou, interrompendo o sono tranqüilo que experimentava já nas primeiras horas da manhã. Era ele que continuava ali, do outro lado da cama. Trazia um lindo sorriso nos lábios, mas os olhos denunciavam a angústia de uma noite em claro, mesmo estando ao lado de seu maior desejo, o desejo de tantos anos...
De propósito, ela apenas sorriu e voltou a fechar os olhos. Tudo estava confuso. A cabeça, recostada a um travesseiro que não usava habitualmente - é, ele se esquecera de que ela dormia sempre sem travesseiro – doía, pesava, rodava. Talvez precisasse de mais uma dose para se equilibrar entre tantos sentimentos contraditórios, ambíguos, desconexos. Qualquer coisa. Uísque, vodca, tequila, licor, gim, cachaça! Qualquer paliativo que tornasse aquele momento menos sofrido, doloroso, indigesto, seria muito bem vindo! Mas o que se via à frente era um lindo café da manhã: suco, leite, biscoitos amanteigados, uma fatia de queijo, café, torradas, e uma flor a ornamentar aqueles longos minutos tão repletos de espinhos. Para seu desespero, nada de álcool!
Não precisava se vestir. Ainda estava vestida. Sentou-se à cama, arrumou os cabelos, passou as mãos pela blusa na tentativa de desamarrotá-la, e lentamente percorreu com os olhos cada detalhe daquele quarto que já conhecia tão bem. O quadro à parede era o mesmo, abstrato, em tons de dourado e de salmão. A cama era a mesma, confortável, grande, quadrada. O closet era o mesmo. As paredes ainda mantinham o mesmo tom. Ele era o mesmo. Então, o que mudara?
Ele continuava inerte, à espera de alguma palavra, algum gesto, algum carinho, alguma explicação. Sua impaciência contrastava com o olhar perdido dela, que não se fixava em ponto algum. O silêncio era tão perturbador que nenhum dos dois conseguia sequer deixar escapar por entre os lábios um mero bom dia.
Subitamente, como se saísse de um estado hipnótico, ela calçou os sapatos, levantou-se e, a passos lentos, caminhou até a poltrona onde deixara sua bolsa. Tomou em mãos a chave do carro, observou sua imagem ao espelho, voltou-se para ele, olhou-o nos olhos, deu-lhe um beijo à face, e saiu. Dessa vez não batera a porta como já fizera outras tantas. Muito ao contrário, fechou-a com tanto cuidado que nenhum som se ouviu propagar naquele corredor que já fora palco de tórridas cenas de paixão ou de total descontrole emocional, como já diziam alguns. O fato é que ela não tinha mais o direito de machucar quem lá dentro ficara.
Nada naquele apartamento mudou. Nada naquele corredor mudou. Nada nele mudou. Mas ela já não era mais a mesma. E isso era motivo suficiente para não mais voltar aos braços daquele que um dia ela tanto amara...

Perdas

Há amores que se vão com o tempo
Há amores que não toleram a ausência
Há amores que não suportam a distância
Há amores que se desencantam com a rotina
Há amores envenenados por intrigas
Há amores que são feridos por palavras
Há amores que não alcançam a maturidade
Há amores que são trocados por interesse
Há amores destroçados pela desconfiança
Há amores machucados pela instabilidade
Há amores que não se encontram com a estabilidade
Há amores eternamente solitários
Há amores que se perdem por medo
Apesar de tudo, apesar do amor, apesar do querer, por medo.
Há amores que se perdem até mesmo por excesso de amor!
Mas não ser feliz por medo de amar, mesmo que ainda doa, essa sim, é a forma mais covarde de se perder um grande amor!

Eu de mim

Estás enganado se pensas que sei lidar com a dor... Quem a suporta não sou eu! Quem a suporta é outra de mim, que surge dos escombros de não sei onde, nem de quê, e se esconde da vida que pulsa para continuar respirando... Esta tem ombros de aço, olhos de águia, mãos que transformam, é invencível na solidão de seu sofrimento, às vezes incompreendida em seu silêncio, mas quando intui o seu próprio fim, se incendeia e renasce das cinzas, cedendo lugar à outra parte de mim, àquela que realmente sou, que aparece para vida que pulsa, para também continuar respirando... Esta, sim, tem magia no olhar, alegria contagiante, mãos que acariciam, olhos apaixonados, sorriso fácil, não aprecia a solidão, e se perde na simples leveza das asas de uma borboleta a transportar o recente cinza da vida para um passado tão distante, que de tão distante, não existe mais...

La vie en rose


Era véspera de Natal. Mais exatamente dia vinte e quatro de dezembro. Ela tinha sete anos de idade. A essa altura já sabia que Papai Noel não descia pela chaminé. Há muito conhecia a identidade do bom velhinho que todo o ano lhe visitava durante a noite, enquanto dormia o sono dos anjinhos. Mas aquele seria um Natal diferente. Havia uma promessa a ser cumprida.
As horas iam, as horas vinham, e o sol teimava em não abandonar aquelas pessoas ávidas por compras, presentes, abraços, carinhos, ceias. Ceia de Natal. E ela continuava a aguardar a noite. A madrugada.
A lua ofusca o sol e os solitários começam a ouvir o burburinho dos cumprimentos no interior das casas enfeitadas com luzes que refletem famílias felizes, pelo menos durante aqueles breves segundos de dezembro. Ela somente desejava a madrugada.
Congratulações, alguns agrados, algumas lágrimas, algumas juras, banquete farto, e as pessoas começam a voltar às suas respectivas realidades. Enfim, silêncio. A ansiedade continuava estampada em seu rosto infantil. Mas precisava dormir. Dormir para que o Papai Noel chegasse. Só que seus olhos não lhe obedeciam. Rolava de um lado da cama. Rolava de outro. Contava carneirinhos. Não adiantava. Estava feliz, todavia não conseguia dormir.
De repente, a maçaneta da porta gira. Era o Papai Noel! Ela fecha os olhos para não decepcioná-lo, e o vulto de duas pessoas adentra o quarto balbuciando coisas que não conseguia ouvir. Cochichavam. Ela mantinha os olhos fechados. Sente quando lhe beijam a face e ouve quando a porta é cuidadosamente encostada pelo lado de fora. Rapidamente abre os olhos.
No meio do quarto estava ela, a promessa! Suntuosa, rainha, elegante, majestosa! Sorrateiramente, desce da cama, contorna o presente tão esperado durante todo o ano, admira, volta a contorná-lo, acaricia.
Não podia acender a luz. Descobririam que ela não estava dormindo! Mesmo assim, volta a acariciar, pois mesmo sem ver, podia sentir, podia tocar...
Os primeiros raios de sol despontam no horizonte. Papai Noel adentra outra vez o quarto para despertá-la e quem sabe participar da surpresa em seus olhinhos brilhantes! Mas dessa vez, o velhinho apenas sorri. Sorri da cena que acabara de presenciar. A pequena estava ali, deitada ao chão, agarrada aos aros de seu presente de Natal. Já desperta, vê que seu presente é rosa! Agora podia ver! Uma bicicleta rosa! Ela já sentia o vento a despentear-lhe os cabelos, a tocar-lhe a face! A partir dali, desbravaria as pacatas ruas daquela cidade se equilibrando entre o bem e o mal!
Como em um passe de mágica, o cinza da vida cedeu espaço à cor do Natal. A vida agora era rosa, cor de rosa! Simples assim...
- Pena que não será sempre assim – lamentou o Papai Noel. Era verdade. Infelizmente, a pequena cresceu...
Só por hoje eu queria ser Deus
Por segundos, por alguns milésimos de segundos
Então, eu lhe tiraria a tristeza do olhar, a dor, a angústia
Responderia suas perguntas
Enxugaria sua lágrimas
Não lhe deixaria mais sentir o sal a irrigar-lhe a boca
Devolveria-lhe a vida
A vida que lhe fora roubada
Ainda que seus olhos continuem abertos
Ávidos pelo resquício de uma única esperança
Desculpe, Deus, a minha pretensão!
Desculpe também, meu pai, por eu não poder ser Deus...

Eu escrevo coisas que entendo e que não entendo, não por querer entendê-las, mas, simplesmente, por escrever.
Eu escrevo sobre papéis amassados, rasurados, estampados, lisos, rasgados, inteiros, infantilizados, envelhecidos, perdidos, vazios, em branco.
Eu escrevo sobre histórias invertidas, marginalizadas, desnudas, alheias, próprias, divididas, secretas, perigosas, ingênuas.
Eu escrevo sobre as delícias da vida, do ser humano, do amor, da amizade, da felicidade, da solidariedade, da saudade, do perdão, do recomeço.
Eu escrevo sobre a dor, o ultraje, a desigualdade, a mágoa.
Eu escrevo sobre o que pode nos tornar a dor, o ultraje, a desigualdade, a mágoa.
Eu escrevo de forma veloz, porque minhas palavras não esperam o virar da página.
Eu escrevo livre.
No papel cabe o universo, os sentimentos, minhas impressões de mundo, ainda que transitórias.
Eu escrevo livre.
A verdade estampada, camuflada, a mentira romanceada, impudica.
Eu escrevo livre.
Eu não escrevo para que me entendam, eu escrevo, despretensiosamente, por escrever.
Eu escrevo livre.



Só fere quem pode!
Só cura quem pode!
Só fala quem pode!
Só silencia quem pode!
Só faz quem pode!
Só desfaz quem pode!
Só perturba quem pode!
Só apazigua quem pode!
Só confunde quem pode!
Só explica quem pode!
Só desconcerta quem pode!
Só recompõe quem pode!
Só muda quem pode!
Só não precisa mudar quem pode!
Só troca quem pode!
Só não consegue trocar quem não pode!
Só manda embora quem pode!
Só chama de volta quem pode!
Só voa quem pode!
Só perde as asas quem não pode!
Só é única quem pode!
Só é brinquedo quem não pode!
Só é completa quem pode!
Só é pouco quem não pode!
é inesquecível quem pode!
Só é esquecida quem não pode!
Só é feliz quem pode!
Porque só é amada quem pode!

Todas as nossas escolhas, em algum momento da vida, poderão nos parecer equivocadas! E somente uma resposta é capaz de aquietar-nos o coração: a certeza de que faríamos exatamente tudo igual outra vez...
Não me atraem as palavras rebuscadas.
Não me atrai o status do poeta.
Não me atraem as discussões filosóficas e poéticas.
Não me atrai o champagne sem morangos.
Não me atrai o protocolo do vinho.
Não me atrai a cerveja sem álcool.
Não me atrai o cigarro sem fumaça.
Não me atrai o sexo por obrigação.
Atrai-me a magia das palavras simples.
Atrai-me a audácia do poeta.
Atraem-me as discussões despretensiosas.
Atraem-me os morangos nas borbulhas dos champagnes.
Atrai-me o vinho entre amigos, o vinho entre amantes.
Atrai-me o álcool desinibidor da cerveja.
Atrai-me a fumaça de uma boca bonita. Melhor, a boca bonita.
Atraem-me os beijos da boca bonita a transformar em obrigação prazerosa tudo o que tão somente um único beijo pode reacender.
Disseram-na que ela é má!
Disseram tanto, que ela parou para pensar.
Se ela gosta, ela maltrata!
Se ela se apaixona, ela maltrata também!
Se ela ama, ela maltrata ainda mais!
Mas ela não sabe de onde vem tanto medo.
Se é dessa vida Ou de outras já vividas.
O que não sabem,
É que ela não é má!
E se algum dia ela pareceu má,
Ela foi bem pior com ela mesma!
Seja feliz, mesmo que sua felicidade incomode aos outros! É melhor ser feliz e incomodar, que, covardemente, compactuar e compartilhar a infelicidade de quem, egoisticamente, não sabe ser feliz com as coisas que tem...

Cicatriz

- Sabe que não dói mais como antes? – disse-me ela, fixando o olhar em um ponto oposto ao meu, na tentativa de não ter sua evasiva analisada por mim.
E continuou a se enganar.
Saiu com os amigos, dançou, pulou, sorriu, falou alto, exorcizou os demônios, se indispôs com alguns anjinhos, se sentiu livre, feliz... Feliz? Quase feliz!
O fato é que dali a alguns dias, o telefone começa a tocar.
Opa! Admirador na área! A vida seguia seu rumo. Afinal, essa é a ordem natural das coisas, não é mesmo? A palidez de seu olhar, entretanto, denunciava a ausência de emoção em sua voz, por mais que se esforçasse gentil.
Mais alguns dias, e um bouquet à porta.
- Puxa vida! Deve ter custado uma nota!
Ela não reparou na beleza das flores cuidadosamente escolhidas e arranjadas por debaixo de um belo cartão enviado. Rosas vermelhas! Mas rosas que não exalavam cheiro de amor, não lhe representavam nada, muito diferente daquele bouquet recebido meses atrás, no dia de seu aniversário. Mesmo assim, recebeu, agradeceu e sorriu, com direito a sufocar toda dor que sentia naquele momento.
Foi aí que a realidade lhe caiu à cabeça.
Na verdade, ainda doía. Na verdade, ainda não tinha passado. Na verdade, ainda estava em carne viva!
Então ela percebeu que ele tinha mesmo ficado, ficara em forma de ferida, que com o tempo se tornaria uma cicatriz. Mas, por enquanto, ainda estava visível E por isso, as pessoas se afastavam com medo de se machucarem também, e outras, queriam curá-la, algumas até mesmo escondendo a própria cicatriz, pequenina com o passar dos meses.
Ela sabia que um dia a sua cicatriz também se reduziria, seria levada para outra parte do corpo, talvez para um lugar que não mais lhe incomodasse ou pudesse ser vista à olho nu. Porém, ela continuaria ali, contornada pelas lembranças que se fixam à pele como se dela fosse parte. E ainda que outra pessoa a fizesse sorrir, vez ou outra, a cicatriz seria apontada, questionada, encontrada...
Mas ela sabia que ele também carregaria a mesma cicatriz. E mesmo que outra pessoa o fizesse sorrir, ela continuaria ali, marcada em seu corpo, tatuada à pele, fazendo parte dela. E se algum dia não fosse mais encontrada, ainda assim ela estaria ali, tatuada à alma, uma cicatriz na alma, completamente impassível e imune à qualquer tratamento de cura...

Associação de Combate ao Câncer em Goiás - Hospital Araújo Jorge / Goiânia - GO Doações: (62) 3232-2911

São corredores da morte. São condenados que carregam a sentença cravada no próprio corpo, na própria carne. Na face, nos pulmões, no fígado, no pâncreas, na próstata, nas pernas, nos braços, enfim, onde o veredicto imposto pela cruel e desumana caneta da vida consegue alcançar. São olhos marejados que se perdem no espaço e, em silêncio, fazem perguntas, a maioria delas, sem respostas. Será culpa minha? Será um castigo? Será que sobrevivo? Será... Será... Será... E dor... Dor que faz questionar a própria essência, caráter... Os anjos? Os anjos são aqueles que acompanham os condenados por entre os corredores da morte... São aqueles que já conseguiram remissão se foram mesmo expulsos do céu pelo Criador...São aqueles para os quais não existe mais pecado, simplesmente por serem anjos... Anjos em momento de dor... Para estes e para os condenados, a vida não é somente vida, é presente, é perdão, é amor... E o Criador, por amor, desenha e redesenha o destino dos condenados... Somente por amor...